sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Carta à Amiga Ativista

Querida amiga ativista,
Talvez você nem se lembre mais disso, mas eu gostaria de conversar sobre a Marcha das Vadias que aconteceu durante a Jornada Mundial da Juventude, que você andou chamando de "a vinda do papa". Sabe o que é? Apesar do tempo que já passou, não consigo esquecer aquilo. E eu queria que você soubesse disso.

Quando aquelas manifestantes quebraram imagens para mim tão queridas, não vou mentir: fiquei MUITO PUTA. Queria que você entendesse, para mim aquelas imagens também não passam de gesso e tinta; não são divindades, nada assim. Mas uma fotografia da minha Isabel também é só papel e tinta e se alguém a queimasse ou rasgasse também me irritaria da mesma forma. Você, provavelmente, é mãe. Pensa numa fotografia do(a) seu(a) filho(a). Talvez você entenda meu sentimento naquele momento.

Para falar bem a verdade, aquelas moças (embora tenham me aborrecido), não me surpreenderam. Gente idiota fazendo coisa idiota tem em todo lugar, infelizmente. O pior, o dolorido veio de você. Quando vi na sua TL que você apoiava a postura delas. Quando li aquele link que você compartilhou, com um texto dizendo que a Igreja Católica era inimiga das lutas pelos direitos das mulheres, dos gays...saiba que naquele momento você me magoou. Queria que você soubesse disso.

Você me magoou porque a Igreja a que você se referiu sou eu. E, sabe, não me sinto inimiga de ninguém. Muito menos de gays e mulheres. Achei que você soubesse disso. Nós, que temos tanto em comum; que lutamos por tantas causas lindas lado a lado. Até aquele momento, eu acreditava que era possível pessoas diferentes se fixarem nos pontos em comum. Uma vez um gay me disse, ao saber que eu sou católica, que nós dois fazíamos coisas que o outro não faria. Eu vou à missa e ele namora homens. Na minha cabeça inocente, a dinâmica era esta. Algo em mim quebrou ao ler sua opinião raivosa sobre a minha fé...sobre mim.

Você discursa tão bem sobre liberdade, sobre justiça, sobre amor...acho que por isso esperava que você, mesmo sem concordar com minha religião, levantasse a bandeira da tolerância. Quando vi na sua mão a bandeira negra no lugar da branca, fiquei surpresa, fiquei sem chão. Ainda dói lembrar.

Não sei se você notou, mas ando mais calada. Não consigo dar aquele sorriso largo de antes para você. Se te encontrei pessoalmente, provavelmente você viu uma Mari mais retraída. Se você é amiga só de face, provavelmente as conversas inbox deram uma esfriada. Entenda, por favor, não é por mal. Estou tentando superar, mas acho que vou levar um tempo ainda. Saiba também que você não é uma só. Você são muitas. Amo todas ainda, mas estou superando o trauma.

A ordem que recebi da minha Igreja na ocasião foi claríssima: não discutir, não brigar. A orientação dada foi, quando sentir raiva, rezar uma (ou duas, ou dez, ou mil) Ave Maria e perdoar. Abrandar o coração. Viu só como a Igreja não quer ser sua inimiga? Foi por causa desta ordem que eu demorei a escrever. Precisei deste tempo para abrandar meu coração a ponto de falar com você amorosamente como, aliás, você merece por tudo o que você é. Ainda não consegui te perdoar, viu? Mas estou em oração para isso. Sei que vou conseguir.

Um beijo,
Mari