quarta-feira, 17 de julho de 2013

Sobre JMJ, protestos, religião e política

Ontem uma amiga-querida-parceira-ativista me fez a seguinte pergunta: "como fica o coração católico-ativista com atos na recepção do papa?" Confesso que achei engraçada a pergunta. Engraçado porque vejo esta separação: católicos (cristãos) e ativistas estão do mesmo lado desta trincheira. Olhando a vida de Jesus percebemos claramente o quão revolucionário e, por que não, político Ele foi em suas declarações e atitudes: basta ver como Sua presença incomodou os poderosos da época.

Muita gente defende que política e religião não se misturam. Eu discordo. Acredito que uma fé apolítica é uma fé vazia; uma fé alienada. Não é esta fé que eu professo. A minha fé é uma fé de atitude, uma fé de obras, como diria pe Dehon. A minha fé cristã me faz ir às ruas por mais igualdade; ou por mais respeito ao parto e ao nascimento. Isso é ser cristão. Ser cristão não é ficar 24h enfiado na igreja olhando para o próprio umbigo. O nome disso é acomodação.

Mas voltando à JMJ e ao atual momento de tensão que vivemos em nosso país. Primeiro tenho que dizer que não é coincidência. Acho que será excelente nos manifestarmos agora, quando o mundo nos estará olhando. Será que nossa polícia terá coragem para atacar covardemente os manifestantes na frente do papa - e das lentes da imprensa mundial? Espero que não mas, se fizer, certamente teremos mais força na nossa defesa. Deus sabe das coisas, e acredito que nos mandou tantos eventos internacionais na hora certinha.

Depois que a pergunta foi lançada à minha mente, fui lendo uma coisa aqui, outra acolá e percebi duas situações bem interessantes. De um lado, a grande mídia com manchetes como "Abin avalia que manifestações podem ser 'fonte de ameaça' à JMJ" (O Globo de hoje); e de outro, os noticiários católicos dizendo coisa bem diferente. Olha só este trecho, que eu extraí do blog da Canção Nova:

"Os manifestos fazem parte de um país democrático, diz Dom Orani, e demonstram a voz do povo insatisfeito e que reivindica um Brasil mais justo, com mais saúde e educação para a população.

É nesse sentido que Dom Orani destaca a JMJ como um evento positivo, que traz também o sonho da juventude consigo. “Uma juventude que tem valor; valores cristãos que também querem mudar o mundo com um coração de justiça e de paz e que pode dar um olhar diferente para estas reivindicações aqui no Brasil, na sua maioria, com o desejo de buscar tempos melhores”.

Para o arcebispo, a Jornada é uma boa proposta para que a juventude de todo o mundo manifeste seu desejo de fazer a diferença, impulsionada por valores cristãos. Segundo ele, os católicos, por meio da JMJ, podem também reivindicar e colaborar para a melhoria das realidades no país."

Aí eu me pergunto: a quem interessaria colocar a juventude católica - e a própria Jornada - como opositora às manifestações? A quem interessa a desunião? Pergunto ainda qual seria uma fonte de informação mais confiável. O jornal que mostrou os manifestantes como vândalos criminosos, na minha opinião, não é confiável.

Nestes próximos dias estarei bastante envolvida com a JMJ. Finalmente ela chegou!! Foram cerca de dois anos de expectativa, preparação, planos...por tudo isso, nos próximos dias me reservo o direito de viver a Jornada como católica que sou...mas vou adorar aplaudir alguma manifestação que cruzar nossas procissões. Estamos juntos por um país melhor e mais justo!

(escrevi este post super na correria, apenas para não perder o momento...perdoem a "tosquice", sim?)

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Não é Fácil

Sábado fomos a uma papelaria para comprar massinha de modelar. Quando chegamos, Isabel pediu para comprarmos tintas, e não massinhas. Concordei. Poucas vezes na minha vida vi a filha tão satisfeita escolhendo as cores, juntando os potinhos escolhidos no saquinho plástico. Voltou para casa numa agitação, sorriso largo. Chegou em casa gritando "papai, mamãe comprou TINTAS!"

Logo ali, na porta mesmo, abriu os potinhos, pegou um livro de historinhas e começou a pintar. Feliz! Pintou o papel, pintou o rosto. Fui para a cozinha na certeza de estar fazendo minha filhotinha amada mais feliz.

Voltei alguns minutos depois. Nada neste mundo me preparou para o que eu vi: uma parede inteira da minha sala estava tomada por carimbinhos de mãos, nas mais variadas cores. O mesmo aconteceu com o sofá. Tudo pintado e colorido. No meio do mosaico, Isabel com ambas as mãos (e o rosto, e o corpo) cobertas de tinta;ainda completava o trabalho de pintura da sala...

Raiva. Foi isso que eu senti. Um arrepio na espinha, um sentimento de injustiça: como ela pôde fazer aquilo COMIGO? Por que ela sujou daquela maneira a minha sala?? Logo eu, que faço tanto por ela, não merecia aquilo.

-Isabel, por que você fez isso? Não sabe que não pode rabiscar a sala?
-Mas é tinta, mamãe. Não ficou lindo?

A raiva crescia dentro de mim. Um vulcão de sentimentos - todos ruins - tomava conta de mim. - Está HORRÍVEL, minha filha. Você sujou a minha sala toda. Não sabe que sujeira é só no seu quarto?? Como você teve coragem de fazer isso?

Em algum momento que não posso precisar, o meu tom de voz se elevou. Sim. Gritei. Tive ganas de bater. Lá longe, muito longe, a voz do marido me chamava à razão "calma, Mari!". Não estava nada calma. Estava enfurecida! De feliz, Isabel estava séria, algo chorosa. As mãozinhas ainda sujas longe das paredes, mas sem destino. Sentei no chão atônita.

Ela se aproximou de mim e...me bateu. Me sujou a roupa toda. Blusa nova. A raiva só crescia.

Minha filha tem esta difícil característica: quando ela se sente injustiçada ou pressionada, ela agride. Sei disso, pois já vi este comportamento infinitas vezes. Sempre que vejo isso, tento primeiro acolhê-la, fazê-la se sentir confiante, para depois resolver o problema principal. Isso, aliás, já foi muitas vezes interpretado pelos críticos como falta de pulso, ou falta de limites, ou como não deixar claro o erro dela...

Mas não desta vez. Agora, eu estava fora de mim. Eu estava absolutamente furiosa contra ela. Só tive forças para dizer "sai de perto de mim." Ela olhou pra mim, olhou pro pai, de novo pra mim. O pai a pegou e a levou para o quarto. Gritei (é. Gritei de novo) para que ele não a deixasse sozinha. Dessas coisas que não sabemos explicar, algo em mim sabia que não seria bom ela ficar sozinha.

O pai fechou a porta. Ouvi seu choro, seu grito. Ela não parava de me chamar. Sentada estava, sentada continuei. Poucos instantes depois ela abriu a porta e veio correndo. Parou na minha frente sem me tocar. Simplesmente parou, me olhou e chorou.

Seus olhos tristes me comoveram. Não suportei ver minha filha sofrendo. Aos poucos, como pauladas na alma, as palavras dela me voltavam à mente..."não é rabisco, é tinta" ... "não está lindo, mamãe?" ... "não é sujeira"... Agora eu estava chorando também. O pai, de pé e de longe, só assistia à cena.

- Filha, me dá um abraço?
- Mas minha mão está suja, mamãe. Eu vou sujar sua roupa...

Outra paulada bem forte na alma.

Tirei minha blusa, fiquei só de sutiã. Olhei nos seus olhinhos tão acuados; tão desprotegidos. Pedi novamente um abraço. Nova recusa. "Estou toda suja." "Não é sujeira, filha. É tinta. Abraça a mamãe, por favor." Ela ainda chorava e continuava imóvel na minha frente.

Peguei suas mãozinhas, olhei nos seus olhos e disse com muita sinceridade: "filha, mamãe está nervosa. Você também está nervosa. Mas a gente vai resolver isso juntas, tá? Vamos nos acalmar, de cabeça quente nada se resolve. Mais tarde a gente resolve isso, tá?"

- Tá bem.

Vi tanto desamparo na minha criança, que agora, escrevendo, volto a ter vontade de enfiar uma espada na minha cabeça.

Peguei lenços umedecidos, "limpei" as mãozinhas dela. Ela em silencio enquanto eu repetia. Mamãe ficou muito nervosa. Vamos resolver isso. Tudo vai ficar bem. Vamos resolver juntas. Mamãe te ama. Me dá um abraço, por favor?

Abracei minha filha. Abracei aquele serzinho tão indefeso, tão amoroso; mas que, havia pouco, me fez sentir raiva. Do abraço ela pediu para mamar. Mamou sem me olhar nos olhos...rostinho ainda inchado do choro. Acariciei meu neném. Ela dormiu sem almoçar.

Olhando para minha filha ali, dormindo no meu colo, ainda com as marcas do que começou como brincadeira e terminou tão mal, chorei. "Eu gritei com ela! Como eu pude gritar com a nossa filhinha?" O marido me olhou, acariciou meu rosto e me disse "eu vi o teu esforço. Estou orgulhoso de você. Não se preocupe, ela ainda te ama muito." E eu chorei.

O marido precisou sair, almocei sozinha, de costas para a parede recém-colorida. Ela acordou no meio da tarde. Dei o almoço. No finzinho ela apontou a tal parede e perguntou "está lindo ou feio mamãe?"

-Filha, na sala a mamãe prefere as paredes sem as suas pinturas. Pintura de criança não combina com sala. Combina - e fica lindo - no seu quartinho! Lá a mamãe acha lindo!

Peguei dois panos, umedeci. Chamei minha filha para tirar a pintura (tomei um cuidado quase cômico para não falar "limpar"; ou "sujeira"). No início ela não se animou, mas depois empenhou-se de verdade na tarefa. Passamos a tarde tirando tinta da sala. Da parede, do chão, do sofá...foi divertido! Muito divertido.

-Quando o papai chegar, vai adorar ver a sala sem tinta né, mamãe?
-Vai sim!! Ele vai ficar orgulhoso de você.
-Por que eu consertei as coisas?
-É sim! Você está sendo muito responsável!

Claro que a sala vai ganhar nos próximos dias uma pintura nova. E o sofá, uma capa. A mamãe, essa aprendeu mais uma difícil lição nessa aventura de cuidar de crianças: nunca estamos tão preparadas que não possamos nos descontrolar. E nunca é demais tentar olhar as coisas sob a ótica das crianças. A regra dizia que não se podia rabiscar as paredes da sala...ninguém falou nada sobre tintas.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Vamos Falar da Vara?

Quem me conhece sabe que antes, muito antes, de ser mãe, sou católica. Na minha juventude, dediquei grande parte do meu tempo sendo dirigente de grupo, missionária, catequista e outros. E que, até hoje (embora tenha optado, com o casamento, por dedicar meu tempo livre à minha família), sou fiel da Igreja Católica Apostólica Romana. Do tipo que se confessa e vai à missa todos os domingos. Do tipo que acredita naquilo, e ensina isso para a filha. Do tipo que defende que Páscoa não é a festa do coelho; nem Natal a do papai noel.

Ao me tornar mãe, descobri um novo significado para a palavra Amor. Amor de Deus, amor de mãe, amor demais! Nunca antes aqueles ensinamentos fizeram tanto sentido. Deus nos ama como eu amo a Isabel. Lindo, perfeito e complementar.

Justamente por amar minha filha saída de mim, tento respeitá-la o mais que posso. Justamente por respeitá-la, tento não fazer com ela o que eu não desejaria que fosse feito comigo. E é por isso que não bato nela (não! nem uma palmadinha...). E é por isso que não a coloco no "cantinho do pensamento". E é por isso que nunca, nunca mesmo, nunquinha, digo ou a levo a crer que não a amo; ou amo menos; ou estou decepcionada quando ela faz algo reprovável. Tento não subjugá-la. Tento direcioná-la com amor; fazê-la querer fazer o bem, fazer o certo.

Aliás, foi assim que Deus agiu conosco também, né? Nós vivíamos em pecado, longe dEle. Merecíamos a perdição. Deus, nosso pai de Amor, não permitiu. Fez-se homem, padeceu pelo meu (e pelo seu) pecado. Deus não nos fez "arcar com as consequências dos nossos atos". Deus perdoou. E perdoa sempre. Não nos exige sacrifício ou castigo para isso. Exige apenas que nos arrependamos. Se Deus, melhor que eu em tudo, não me castiga; por que eu me consideraria no direito de castigar uma criança? A minha criança?

Pois, para a minha surpresa, descobri que um número bem razoável de irmãos de fé utilizam a Bíblia como argumento para...bater nas crianças! Segundo este grupo, os ensinamentos das Escrituras, especialmente os do livro dos Provérbios, Deuteronômio e Eclesiastico, não apenas dão autorização para que se bata, como exigem que tal postura seja adotada. Vamos aos trechos:

"Não poupes ao menino a correção: se tu o castigares com a vara, ele não morrerá, castigando-o com a vara, salvarás sua vida da morada dos mortos." Provérbios 23, 13-14

"Quem poupa a vara odeia seu filho; quem o ama, castiga-o na hora precisa." Provérbios 13, 24
 


"A loucura apega-se ao coração da criança; a vara da disciplina afastá-la-á dela." Provérbios 22, 15 

Sempre que li estes ensinamentos, peguei a lição de que os pais não devem se furtar da obrigação de educar seus filhos, mostrar a eles o caminho certo a ser seguido; ensiná-los a ser pessoas de bem.  Sempre vi a "vara" como símbolo da disciplina e não como violência literal. Foi aí que ouvi, das pessoas que defendem a idéia de que a Bíblia apoia bater em crianças, que tudo ali escrito deve ser seguido ao pé da letra, de forma literal. Então, vejamos estes trechos:

"Quando irmãos morarem juntos, e um deles morrer, e não tiver filho, então a mulher do falecido não se casará com homem estranho, de fora; seu cunhado estará com ela, e a receberá por mulher, e fará a obrigação de cunhado com ela.
E o primogênito que ela lhe der será o sucessor do nome do irmão falecido, para que seu nome não se apague em Israel." Deuteronômio 25, 5-6

Será que algum dos irmãos de fé que defende seguir a Bíblia sempre de forma literal pensaria seriamente em transar com a cunhada viúva? Ou seria esta uma mensagem para não deixarmos a tal cunhada abandonada à própria sorte após a viuvez? No seu contexto original, em que uma mulher sem marido e sem filhos estava condenada à mendicância, fazer nela um fiho (de forma literal) fazia sentido; e era mais que um gesto de caridade...mas nos dias de hoje isso é impensado. Porque, então, não podemoas refletir à luz dos dias atuais em relação aos castigos físicos para crianças?

Ou este ainda:

"E se a sua mão direita o fizer pecar, corte-a e lance-a fora. É melhor perder uma parte do seu corpo do que ir todo ele para o inferno." Mateus 5, 30

Nunca tive notícias de um irmão de fé que, após ter batido na esposa; roubado algo ou apontado o dedo acusatório para alguém (atitudes sabidamente erradas - de pecado) tenha se arrependido e decepado a mão. Gostaria de acreditar que nenhum seguidor de Cristo comete tais atos. Mas a verdade é que, quando nos arrependemos, passamos a evitar as situações que nos levam a pecar. Esta é a mensagem da Bíblia. De novo pergunto: se ninguém cogita arrancar a própria mão, porque aceitamos bater nas crianças?

Para quem não está familiarizado com a Bíblia, este trecho faz parte do famoso - e lindíssimo - Sermão da Montanha. Nele, Jesus nos diz muitas  vezes "vocês ouviram o que foi dito (...), mas Eu lhes digo (...)" E aí Ele vai citando passagens do Antigo Testamento, e vai-lhes ampliando o significado. No caso aqui descrito, Jesus cita o sétimo mandamento do Decálogo, que proíbe o adultério. Neste contexto, ele explica que olhar com más intenções uma mulher já é cometer adultério...e aí, para evitar o pecado, ele diz para lançarmos fora o olho que nos faz pecar; ou a mão que nos faz pecar. Certamente querendo explicar que tudo aquilo que nos faz pecar deve ser eliminado da nossa vida; por mais que sejamos apegados. Não. Deus não nos quer decepados, pode acreditar.

Como estes, teria outros tantos trechos bíblicos, carregados de ensinamentos corretos e que devem ser seguidos, mas que precisam ser lidos à luz da inteligência e do discernimento (ambos dons de Deus, pois não?). Sempre acreditei que a verdadeira fé não desconsidera o fato de sermos seres pensantes. Sempre questionei muito as coisas. E posso afirmar sem medo de errar que, quanto mais estudo, mais descubro como os ensinamentos de Deus são corretos e sábios. Mas que precisam ser compreendidos em sua totalidade.

Pesquisando sobre o tema em outras fontes que considero confiáveis, deparei-me com esta bonita oração/pregação da consagrada Salette Ferreira. Nela, a missionária diz claramente que a vara, nesta passagem, não significa o objeto que machuca a criança, mas, sim, a correção, a importância de mostrar o que é certo e o que é errado. Fala também que não devemos, nunca, nos omitir diante dos erros dos nossos filhos; e, de quebra, lembra a importância do exemplo: lembra que o modo como nos tratamos enquanto casal (e aí eu extendo isso a todos os tipos e arranjos familiares) terá reflexo direto na maneira como nossos filhos se comportarão.

Também gostaria de recorrer ao Catecismo da Igreja Católica. Catecismo, como devem saber, é um termo vindo do grego, que significa ensinar, instruir. O Catecismo da Igreja Católica é, assim, uma exposição da fé católica elaborada pelos Magistrados da Igreja. Um texto em linguagem atual, que explica de forma organizada os elementos fundamentais da fé cristã. Pessoalmente, recorro sempre a ele, me ajuda muito (e você pensava que ser católico era só ir à missa e participar de procissões hein?). Vamos a ele:


§2223 Os pais são os primeiros responsáveis pela educação de seus filhos. Dão testemunho desta responsabilidade em primeiro lugar pela criação de um lar no qual a ternura, o perdão, o respeito, a fidelidade e o serviço desinteressado são a regra. O lar é um lugar apropriado para a educação das virtudes. Esta requer a aprendizagem da abnegação, de um reto juízo, do domínio de si, condições de toda liberdade verdadeira. Os pais ensinarão os filhos a subordinar "as dimensões físicas e instintivas às dimensões interiores e espirituais." Dar bom exemplo aos filhos é uma grave responsabilidade para os pais. Sabendo reconhecer diante deles seus próprios defeitos, ser-lhes-á mais fácil guiá-los e corrigi-los:

"Aquele que ama o filho usará com freqüência o chicote; aquele que educa seu filho terá motivo de satisfação" (Eclo 30,1-2). "E vós, pais, não deis a vossos filhos motivo de revolta contra vós, mas criai-os na disciplina e correção do Senhor" (Ef 6,4).

Educar crianças nunca foi, nem nunca será tarefa fácil. Quando nos dispomos a ter filhos, temos que ter isto em mente. Deus, em sua sabedoria, mandou-nos diversos recados para que não tentássemos escapulir desta tarefa: cabe aos pais, com seu exemplo, suas atitudes e sua coerência, educar e orientar os filhos. Já acreditava nisso antes, mas agora, depois de refletir um pouco mais sobre o assunto, ficou claro para mim que Deus nos mandou este recado: não fujam à responsabilidade que é de vocês! Não fujamos! Eduquemos, orientemos...sem esquecer o que a Bíblia nos ensina a respeito do trato com o próximo (e há próximo mais próximo que nossos filhos?):

"Não oprimirás o teu próximo, e não o despojarás." Levítico 19,13a
"Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Outro mandamento maior do que estes não existe." Marcos 12,31

E, por fim, as palavras do próprio Jesus:

"Deixai vir a mim os pequequinos e não os impeçais, porque o Reino de Deus é daqueles que se lhes assemelham." Marcos 10,14

Observações/Comentários
Recorri como fonte de pesquisa a três traduções diferentes da Bíblia, que são as que tenho aqui em casa: Ave Maria, CNBB e Jerusalém.

Agradeço imensamente a todas as pessoas - católicas ou não - que me ajudaram a elaborar este post. Deu trabalho, viu? Torrei a sacoleta de muita gente boa...valeu, gente! Vocês são demais!

Acho que mais importante do que ter ou não uma religião, é respeitar o próximo tal como ele é. E entender que nem tudo o que é bom para mim é bom para o vizinho. Não está certo tentar obrigar quem não vive segundo uma religião a seguir-lhe os preceitos.

Vida que segue. Aos trancos, mas segue

Resolvi que já era hora de voltar a frequentar salão de beleza. Tanto tempo doente, tanto tempo com o cabelo caindo...a vida andou me maltratando. A estampa tá precisando ser cuidada. Foi assim que, esta semana, fui ao salão.

Conversei com a querida cabelereira porque né, ainda não posso usar a maioria dos produtos. Então, só queria mesmo lavar, cortar e escovar.

O cabelo tava ruim. Caiu muito, está ressecado. Os buracos sumiram, mas existem hoje, ao redor da cabeça, uma multidão de fios com uns 10cm apenas de comprimento...e uns poucos - pouquíssimos - sobreviventes do cabelo original. Ela olhou, olhou e decretou: vamos tirar só uma pontinha de nada. Conforme os cabelos novos cresçam, a gente vai melhorando o corte.

Aí partimos para a escova. Fiquei lá, vendo o meu cabelo ralo, sem brilho, sem vitalidade ser esticado com ar quente. Irônico, né? Passei toda a minha vida preguejando contra o volume dos meus cabelos, e agora ver aquele tico minguado que habita a cabeça foi me dando uma angústia...

Nunca mais tinha ficado tanto tempo me olhando pelo espelho. Na verdade, ando fugindo de espelhos. Mas agora, ali, era eu e o espelho. Eu e minhas olheiras. Eu e a pele flácida. Eu e a pele sem brilho. Eu e a sobrancelha por fazer. Eu e meu cabelo minguado sem vida. Eu e as marcas dos últimos meses. Chorei.

O choro começou com um nó na garganta...nó na alma. Tanta coisa. Tanto amargor sufocado...quero ser forte, quero ser feliz. Me forço a felicidade. Não entrego os pontos. Mas ali, diante de uma Mariana nada bela, diante de uma Mariana sem viço, sem cor...naquele lugar onde tantas vezes me senti a mais poderosa das mulheres, onde reforçava para mim mesma que eu era o máximo...doeu. E eu chorei.

Não chorei apenas a aparência. Chorei tudo o que passou. Chorei quase ter morrido. Chorei não poder mais ser aquela que fui. Chorei agora com força. Chorei de soluçar. Chorei de chacoalhar o corpo todo. Chorei de saudade de mim. Porque ali, naquela cadeira, eu já tinha sido aquela que não sou mais. Ali, naquele salão, eu sorria, tomava espumante, brincava e era bela. Eu não tinha medo do sol, nem do formol dos produtos. Eu era poderosa.

A cabelereira parou assustada. Me abraçou, chorou comigo. Perguntou se eu queria parar. Não, não queria. Vamos "menospiorar" a fachada! Vamos fazer o que der. Aos opucos vai melhorando. O pior já passou.

O cabelo ficou mais ou menos. A alma saiu aliviada. Chorar é bom. Alivia a gente.

Semana que vem eu volto. Acho que vou fazer uma hidratação...
:)

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Blogterapia

Muita gente confunde "não bater" com "não disciplinar". Pena.
Minha filha sabe respeitar regras...mas ela é uma criança e, como tal, faz coisas de criança. Chora de sono/fome/cansaço...se joga no chão do shopping e cospe no chão da igreja. Todas as vezes que isso ocorre, faço o que acho que devo: converso, negocio, explico e, se nada resolver, vou-me embora do local.

Embora ela seja, na imensa maioria do tempo, uma criança de facílimo trato, ela tem seus momentos de "fúria". Aí que fico triste, pois parece às vezes que, pelo fato de eu não bater/colocar de castigo, tenho a obrigação de ter uma criança perfeita. Todo mau comportamento é creditado à falta de palmada. Chato isso...desgastante.

É o mesmo com o parto. Criança nascida em casa não pode ter problemas de saúde; nem a mãe. É tudo culpa do parto em casa...desgastante.

Pronto. Desabafei.

domingo, 7 de julho de 2013

Adeus, Fraldas

Foi tudo tão fácil que até agora não acredito. Isabel não usa mais fraldas. Assim. Simplesmente.

Desde que falei sobre isso por aqui, adquirimos o hábito de levantarmos juntas, e fazer o xixi matinal (eu no vaso e ela no penico) ao mesmo tempo. Depois, perguntava a ela se ela queria colocar fralda ou calcinha...e seguia a vontade da freguesinha. Normalmente, na hora de ir para a pracinha ela aceitava a fralda e assim seguíamos. Isso até sábado...

Sábado amanheceu como todos os outros dias. Levantamos juntas, deixamos papai na cama e fomos fazer nosso xixi. Eu fiz o meu mas ela, bem, não fez em uma gotinha sequer. Mesmo assim, pediu para colocar calcinha. Fiquei bem tensa, pensando na poça que aguardava meu chão, mas coloquei a calcinha como ela pediu.

Tomamos café da manhã, toda hora eu perguntava se ela queria fazer xixi. Não. ela não queria.

Ela acabou de comer e ficou saracuteando pela casa enquanto o pai e eu terminávamos de comer. E eis que,  sem dizer palavra, ela abaixa a calcinha, senta no penico, faz xixi e se veste. Sozinha! Avisa depois: "pessoal, fiz xixi!" Pouco depois, mesma coisa: abaixa a calcinha senta, se espreme, fica vermelha e pergunta "mamãe, fiz cocô. E agora?"

E passa o restante do tempo que ficaríamos em casa de calcinha, usando o penico como se sempre tivesse feito aquilo. Mas...a gente ia sair. Para longe!! Pegaríamos ônibus, depois metrô E agora? Seria realmente u a pena não continuar com um processo que começou tão lindo e espontâneo, né não? Seguramos na mão de Deus e fomos de calcinha!!

Chegamos, brincamos, comemos, bebemos...e eu perguntando do xixi a todo instante. Isabel super desenvolta sem a fralda, curtindo a liberdade recém-adquirida. Eu? Bom, eu tava tensa. Até que, finalmente, veio o pedido "mamãe, quero fazer xixi".

Todo mundo sempre me disse que, quando a criança fala isso, é porque ela já está praticamente fazendo. Por isso, e apenas por isso, corri. Peguei a filha pelo braço e saí correndo atrás do banheiro. Estávamos longe. Corri o mais que pude. Chegamos secas. Ufa!! Sonho meu...o banheiro era daqueles que precisam de moeda para entrar. Adivinha onde estava a bolsa? Láááááá em cima, junto com o pai e os nossos amigos. Analisei a situação e decidi esquecer um pouco os bons modos: a situação requeria medidas drásticas. "Filha, vai na moita mesmo."

-Na moita,mamãe?
-É. Vamos praquele cantinho...
-Fora do banheiro? Sem penico?
-É filha. abaixa aqui...isso...agora faz.
-Mas mamãe...eu não sou cachorrinho pra fazer xixi na plantinha!!

Alguém merece lição de moral de criança? Ela estava certissima. Vesti-a o nmais rápido que pude, voltei para o nosso piquenique, peguei a moeda, desci de novo, entramos no banheiro...IMUNDO!!

-Mamãe, esse banheiro está muito sujo...
-Não toca em nada, filha! Vamos tirar a roupa...assim...isso. Mamãe te levanta e te segura...Agora faz seu xixi!
-Mas mamãe...aqui tá muito sujo! Tem cocô por todo lado. Limpa!
-Filha, não dá. Faz assim mesmo.
-Mamãe, não consigo fazer xixi nessa sujeira.

Sacaram o desespero desta pobre mãe? Pânico me definia.

Voltei aos nossos amigos e decretei que iríamos embora. Catar um banheiro para minha filha recém desfraldada virou prioridade.

Liguei para a madrinha-comadre-mestre-lu. estávamos perto da casa dela. Não atendeu.
Liguei pra mamis. Estávamos mais perto da casa dela que da nossa. Atendeu. Não estava em casa. Chegaria em 20 minutos. Bom, em 20 minutos a filha certamente precisaria de um banho, caso não achássemos um banheiro antes. "Vou praí, mãe."

Foi aí que vi uma salvadora Loja Americana. Entrei e procurei logo o banheiro. Não havia banheiro para clientes. Desespero total. Bom, mas lá eles vendem...penico! Comprei um. Mas não. Minha filha não pareceu disposta a fazer xixi num cantinho qualquer, mesmo no seu penico novo.

Pegamos um ônibus e, em vinte minutos e ainda secas, chegamos à casa da minha mãe. Colocamos o penico no chão e...Isabel fez seu xixi lá. Carinha de alívio dela e minha!

Passamos a tarde com minha mãe. Todos os cocôs e xixis foram feitos direitinho no penico. Quer dizer, um escapou um pouquinho porque, né, a brincadeira tava muito divertida. Mesmo assim, nos primeiros pingos ela disse "mamãe, esqueci que tava de calcinha..." Eu a limpei, troquei e só depois ela disse que tinha que "terminar o xixi" no penico.

E aí chegou a noite. E aí eu quis botar fralda para dormir. E aí que ela disse "mas mamãe, eu não uso mais fralda, esqueceu?"

Só consegui colocar a fralda com ela dormindo. Na manhã seguinte, fralda seca e filha frustrada: mas mamãe...eu não uso mais fralda!! Por que você colocou fralda em mim? E foi assim que, depois de um dia inteiro sem nenhum acidente, fazendo tudo, absolutamente tudo no penico, ela dormiu sem fralda. Na madrugada, me perguntou "mamãe, eu estou de fralda ou de calcinha?"

-De calcinha, filha.
-Então eu preciso fazer xixi no meu peniquinho!

E fez!

Isso aconteceu há uma semana e um dia. De lá pra cá, aconteceram exatamente 3 escapes: um diurno, na casa da vovó (que esqueceu de levá-la ao penico) e dois noturnos. Numa das noites, papai esqueceu de levá-la ao penico antes de dormir e na outra ela estava muito cansada e não acordou. No restante do tempo sucesso total! Posso considerar minha filha desfraldada, pois não?

Observações e reflexões
- Quando ela fez 2 anos, foi uma enxurrada de pitaqueiros avisando que estava na hora de tirar as fraldas. Não senti isso na minha filha, bati o pé (nem sempre com educação) e não tirei. O mesmo aconteceu quando chegou o verão. Até penico queriam dar de presente. De novo bati o pé, de novo nem sempre educadamente, de novo não tirei as fraldas naquela ocasião.

- Ela foi a penúltima criança a desfraldar na turminha da creche. Também lá, ouvi algumas solicitações para que desfraldássemos. O método sugerido me pareceu bastante autoritário: tirar as fraldas e pronto. Não fiz. Diante das insistências, inventei que "a psicologa" havia dito que ela estaria passando por um período "traumático" por causa daa minha doença e que, por isso, ela disse para "atrasar" o desfralde. Se alguém da creche ler isso, perdão. Mas é que eu não queria impor um desfralde sem achar que era a hora da minha filha...espero que a amizade continue :)

- Finalmente, desfraldamos no inverno e justamente no momento em que estamos trocando a criança de creche. Sem traumas e sem dificuldade. Acredito que isso seja porque não escolhi o momento de fazer isso: foi ela quem escolheu. Então, ela estava pronta.

- Minha filha é uma lady e praticamente não faz xixi na rua. Orgulho da mamãe ;P