segunda-feira, 27 de maio de 2013

Senhor Penico

Uma das coisas que mais me apavoravam quando pensava em ser mãe, certamente era o desfralde. Entrava em pânico só de pensar que esse dia chegaria. Quando ela ainda era um bebezinho, pensei em praticar EC, acho que muito mais para não ter que passar pelo desfralde! Bom, não rolou o EC, então vamos ter que tirar as fraldas dessa menina.

Bom, sou absolutamente contrária a imposições. Então, resolvi deixar as coisas acontecerem como tinham que ser. Parti do princípio de que ninguém mentalmente sadio chega à adolescência usando fraldas...ela avisaria quando estivesse pronta.

E foi assim que, há algum tempo, ela começou a avisar quando fazia xixi e/ou cocô. Tentamos sem sucesso fazer algumas vezes no vaso sanitário, com o redutor, mas ela curtia sentar, fingia fazer o xixi, mas não saía nada...e assim os dias foram passando.

Impressionante como as pessoas se prendem a prazos e datas. Cansei de escutar que ela "estava velha" para as fraldas; que eu tinha que "aproveitar o verão" para desfraldar (tem coisa mais sem sentido que isso??). Teve gente presenteando calcinha e perguntando se eu queria um penico de presente.

Não. Eu não queria.

Até que eu percebi que ela queria um penico. Fomos juntas à loja, ela sentou em todos os modelos "sem pilha" (por que raiso os penicos agora funcionam com pilha?) e escolheu aquele que ela quis. Voltamos para casa felizes com a nova aquisição, que passou a habitar nosso banheiro.

Ela brincou muito com o penico. Fingia fazer xixi e cocô muitas vezes. Fazer que é bom, necas.

Até que...

Ela passou a levantar comigo todos os dias. Enquanto eu fazia meu xixi, ela sentava no penico dela. Primeiro com roupa, depois sem a fralda...um dia, quando eu menos esperava, ela fez o xixi! Festa! Apito! Abraço!!

Agora estamos assim: quando ela quer, usa a calcinha; quando prefere, usa a fralda. Até agora temos 3 xixis no penico, um na cama e todos os outros na fralda. Todos os cocôs são na fralda (quando ela está de calcinha, pede a fralda para fazer).

A família ainda não sabe. Não quero que ela se sinta pressionada.

E assim nós vamos...até aqui não está sendo nada complicado cmo eu imaginava! Que bom.


sexta-feira, 24 de maio de 2013

O machismo nosso de cada dia

Acho que eu tinha uns 16, 17 anos. Uma menina, portanto.
Era a primeira vez que eu ia me depilar sozinha, sem a minha mãe. Menstruei tarde, meus pelos demoraram a crescer...eu estava finalmente virando mulher.

Cheguei ao salão atrapalhada, emcabulada. Pedi o serviço, me levaram para o fundo do estabelecimento. Para minha surpresa, quem me atendeu foi um homem. Fiquei assustada, devo ter mostrado isso na minha expressão. Ele me acalmou "tudo será feito com o máximo de profissionalismo".

Eu queria ser adulta. Queria parecer confiante. Me deixei ficar.

Ele me fez tirar a calcinha. Ele me depilou.

Ele me apalpou.
Ele gemeu.

Eu tremi.

Eu saí daquela sala arrasada, subjugada, humilhada. O que eu fiz? PAGUEI A CONTA e saí.

É. Eu paguei para ser violentada.

É a primeira vez que conto isso.Minha mãe, minha irmã, meu marido. Ninguém sabe disso até hoje.

Ao longo de todos esses anos, a lembrança daquele dia me acompanha. Por muito tempo, considerei que eu era a responsável pelo ocorrido. Afinal, onde já se viu se deixar depilar por um homem?? Hoje eu entendo que fui vítima. Que deveria tê-lo denunciado. Que não tenho que ter vergonha de ser vítima. Mas, quer saber? Eu tenho. Eu não queria ter, mas tenho.

Olho para a minha filha e sofro ao pensar que inevitavelmente ela passará por situação semelhante. Todas nós passamos. O machismo existe sim, nos oprime até hoje, nos subjuga a todas.

Mas a gente se acostuma...a gente nem percebe. A gente finge que não percebe.
Sonho com um mundo diferente. Sonho com um mundo melhor. Assim, quem sabe, minha filha possa olhar serena para a filha dela, sem medo como eu hoje olho minha neném dormir?