sexta-feira, 24 de maio de 2013

O machismo nosso de cada dia

Acho que eu tinha uns 16, 17 anos. Uma menina, portanto.
Era a primeira vez que eu ia me depilar sozinha, sem a minha mãe. Menstruei tarde, meus pelos demoraram a crescer...eu estava finalmente virando mulher.

Cheguei ao salão atrapalhada, emcabulada. Pedi o serviço, me levaram para o fundo do estabelecimento. Para minha surpresa, quem me atendeu foi um homem. Fiquei assustada, devo ter mostrado isso na minha expressão. Ele me acalmou "tudo será feito com o máximo de profissionalismo".

Eu queria ser adulta. Queria parecer confiante. Me deixei ficar.

Ele me fez tirar a calcinha. Ele me depilou.

Ele me apalpou.
Ele gemeu.

Eu tremi.

Eu saí daquela sala arrasada, subjugada, humilhada. O que eu fiz? PAGUEI A CONTA e saí.

É. Eu paguei para ser violentada.

É a primeira vez que conto isso.Minha mãe, minha irmã, meu marido. Ninguém sabe disso até hoje.

Ao longo de todos esses anos, a lembrança daquele dia me acompanha. Por muito tempo, considerei que eu era a responsável pelo ocorrido. Afinal, onde já se viu se deixar depilar por um homem?? Hoje eu entendo que fui vítima. Que deveria tê-lo denunciado. Que não tenho que ter vergonha de ser vítima. Mas, quer saber? Eu tenho. Eu não queria ter, mas tenho.

Olho para a minha filha e sofro ao pensar que inevitavelmente ela passará por situação semelhante. Todas nós passamos. O machismo existe sim, nos oprime até hoje, nos subjuga a todas.

Mas a gente se acostuma...a gente nem percebe. A gente finge que não percebe.
Sonho com um mundo diferente. Sonho com um mundo melhor. Assim, quem sabe, minha filha possa olhar serena para a filha dela, sem medo como eu hoje olho minha neném dormir?

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