terça-feira, 10 de setembro de 2013

Eu já desejei morrer.


Não estou falando daquele desejo fútil, daquela fala com toques de drama que adotamos em determinadas situações das nossas vidas. Estou falando de desejo genuíno. De desejo verdadeiro.

Eu estava internada havia poucos dias. Estava recebendo na veia a maior dose de analgesia que meu peso permitia, mas mesmo assim a dor era insuportável. Maior, muito maior do que eu era capaz de aguentar. Naquele momento, não pensei na minha filha que precisava tanto de mim, nem nos planos que eu ainda tinha por viver. Eu só queria que aquilo parasse. Que parasse de doer. E sim, eu quis morrer.

Tem pessoa muito próxima e muito amada que também já quis. Situação diversa, a dor  não era física, mas na alma. Mas de novo o mesmo desejo de que aquilo apenas terminasse. Esta pessoa tentou machucar-se. Graças aos céus, e a um parente que apareceu naquele momento, nada de mais grave aconteceu. No meu caso, no hospital, eu não tinha instrumentos para acabar com minha vida...mas acreditem, se eu tivesse, teria usado.

Quando descobri que hoje era o dia de prevenção ao suicídio, dia que nem sabia existir, a memória desses dois episódios veio à minha mente. Acredito que eu tenho um olhar diferente da maioria para este tema...porque eu SEI o que se passa na mente de alguém que termina com a própria vida. Sei, porque minha mente já desejou isso. Sei, porque pessoas que eu amo também já desejaram.

Não se trata de falta de alegria; nem de falta de amor à vida. Para falar a verdade, me considero uma pessoa de bem com a vida e com as dores que ela me impôs.

Quando finalmente a dor abrandou fui tomada por um arrependimento tão ou mais doloroso quanto a minha doença. Chorei pesadamente. Odiei-me por não ter sido forte. Como tenho religião, busquei o conforto da confissão e abrandei minha consciência. Mas aqui, para você, tenho que reconhecer que ainda me envergonho quando lembro disto. Quando penso que, se me permitissem, eu por escolha própria teria tirado da Isabel a mãe dela; e teria tirado de mim a alegria de estar viva.

Por isso eu acho que falar em prevenção ao suicídio é, antes de mais nada, falar em aceitação. É preciso que nós, que tentamos ou desejamos morrer possamos dizer o que nos aconteceu sem  reservas, para que os próximos que assim se sentirem não tenham a sensação de que são os únicos a sofrer daquela maneira. Prevenir o suicídio é, para mim, abrandar a dor (física ou na alma) daqueles que sofrem. É dizer para quem está sofrendo que a dor vai passar. E tentar tirar esta dor como for possível. A dor passando, a vontade de morrer passa também. Comigo foi assim. Com a outra pessoa que citei também.

Com você também será.

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